Na infância, o aprendizado se dá, principalmente, pela experimentação. Tocar, cheirar, ouvir, ver e provar são formas fundamentais de explorar o mundo. Por isso, atividades práticas que envolvem os sentidos são altamente eficazes no desenvolvimento infantil. A horta sensorial é uma dessas experiências completas: une natureza, sustentabilidade e descobertas sensoriais em uma só proposta.
Além de estimular os cinco sentidos, a criação de uma horta sensorial com crianças valoriza a educação ambiental desde cedo, ensina sobre o cuidado com a vida e proporciona momentos de interação afetiva e aprendizagem lúdica. Quando essa atividade é realizada com o uso de materiais recicláveis, o projeto se torna ainda mais significativo, promovendo a conscientização ecológica de forma prática.
Neste artigo, você vai aprender como montar uma horta sensorial com crianças usando materiais recicláveis, passo a passo. Uma experiência educativa, sustentável e cheia de encantamento para ser vivida na escola ou em casa.
O Que É Uma Horta Sensorial?
Uma horta sensorial é um espaço de cultivo planejado especialmente para estimular os cinco sentidos das crianças: tato, olfato, visão, paladar e audição. Diferente de uma horta comum, que foca apenas na produção de alimentos, a horta sensorial tem como objetivo proporcionar experiências sensoriais variadas e enriquecedoras, tornando-se uma poderosa ferramenta de aprendizagem na primeira infância.
Nesse tipo de horta, cada planta é escolhida estrategicamente para provocar sensações específicas. Folhas macias ou ásperas, flores perfumadas, cores vibrantes, sabores variados e até o som do vento passando pelas plantas ou do solo sendo mexido são partes essenciais dessa vivência. Além disso, o envolvimento direto das crianças no plantio, cuidado e colheita favorece uma conexão afetiva com a natureza e desperta a curiosidade natural sobre o ciclo da vida.
Os estímulos sensoriais presentes em uma horta sensorial são:
Tato: ao tocar a terra, as folhas, as sementes e os caules, as crianças desenvolvem a percepção tátil e a coordenação motora fina.
Olfato: o aroma das ervas como hortelã, alecrim e lavanda estimula o reconhecimento e a diferenciação de cheiros.
Visão: cores variadas de flores, frutos e folhas ajudam a trabalhar a percepção visual, a atenção e a observação.
Paladar: provar o que foi plantado com as próprias mãos é uma experiência única, que incentiva hábitos alimentares saudáveis e o senso de conquista.
Audição: o ambiente da horta também oferece sons naturais como o canto dos pássaros, o vento entre as plantas e o barulho da água na rega, contribuindo para a percepção auditiva e a calma emocional.
Para o desenvolvimento infantil, a horta sensorial é um verdadeiro laboratório ao ar livre. Ela favorece a exploração ativa, o desenvolvimento da linguagem (ao nomear e descrever os elementos), a autonomia, a concentração e o trabalho em equipe. Além disso, é uma forma concreta de ensinar sobre o cuidado com o meio ambiente, o respeito pelos seres vivos e a importância da alimentação natural.
Criar esse espaço sensorial com materiais recicláveis torna a atividade ainda mais educativa e consciente. E o melhor: é totalmente possível adaptar a proposta para diferentes faixas etárias e realidades, seja em casa, na escola ou em espaços comunitários.
Passo a Passo: Como Montar uma Horta Sensorial com Crianças Usando Materiais Recicláveis
Criar uma horta sensorial com as crianças é uma atividade rica em aprendizado e diversão. A seguir, você encontrará um passo a passo completo, desde o planejamento até a montagem da horta, com sugestões práticas para reaproveitar materiais recicláveis e garantir o envolvimento dos pequenos em todas as etapas.
1. Planejamento da Atividade
Antes de colocar a mão na terra, é essencial organizar a proposta com cuidado. Um bom planejamento garante que a atividade seja segura, educativa e adequada ao espaço e à idade das crianças.
Escolha do espaço:
Verifique se a horta será montada em ambiente interno (varandas, corredores, janelas) ou externo (quintal, jardim, área escolar). Considere a incidência de luz solar, a ventilação e a facilidade de acesso para que as crianças possam acompanhar o crescimento das plantas com frequência.
Definição dos sentidos a serem estimulados:
Liste quais sentidos você deseja trabalhar:
Tato: plantas com texturas variadas.
Olfato: ervas aromáticas.
Visão: flores e vegetais coloridos.
Paladar: temperos e frutinhas comestíveis.
Audição: elementos como sementes que fazem som ao serem chacoalhadas, ou até a sonoridade da água durante a rega.
Lista de materiais recicláveis necessários:
Garrafas PET cortadas ao meio
Caixas de leite lavadas
Potes de margarina, iogurte ou sorvete
Latas de alimentos
Rolinhos de papel higiênico (para semear)
Tampas plásticas (para jogos de identificação)
Colheres descartáveis (como mini pás)
Palitos de sorvete (para identificação das plantas)
2. Preparação dos Recipientes
Com os materiais em mãos, é hora de deixá-los prontos para receber as plantinhas.
Higienização:
Lave bem cada recipiente com água e sabão. Remova rótulos e resíduos. Para latas, lixe as bordas cortantes ou cubra com fita adesiva para evitar acidentes.
Adaptação dos materiais:
Fure o fundo dos recipientes para garantir drenagem da água.
Para vasos pequenos, use caixas de leite cortadas ao meio ou potes de iogurte.
Garrafas PET podem ser cortadas no comprimento para criar jardineiras.
Personalização criativa com as crianças:
Convide os pequenos para decorar os vasos! Use tinta guache, canetinhas permanentes, adesivos e recortes de papel colorido. Isso estimula a criatividade e torna a horta mais divertida e única.
3. Escolha das Plantas
Selecionar as espécies certas é fundamental para garantir que a horta realmente estimule os sentidos das crianças.
Sugestões de plantas sensoriais:
Hortelã, alecrim, manjericão e lavanda (olfato e paladar): ervas aromáticas fáceis de cultivar, com cheiros marcantes e sabores suaves.
Morangueiro (paladar e visão): frutos pequenos e doces, muito atrativos para as crianças.
Suculentas e capim-limão (tato): diferentes texturas que despertam a curiosidade.
Girassol-anão e amor-perfeito (visão): flores coloridas que encantam pelo visual.
Ervilha-de-cheiro ou feijão em vagem (audição): sementes que chacoalham dentro das vagens e produzem sons interessantes.
Cuidados básicos:
Escolha plantas que se adaptem bem ao espaço disponível e à quantidade de luz.
Use uma terra rica em nutrientes ou adubo orgânico feito em casa.
Regue com moderação, preferencialmente nas primeiras horas da manhã.
Ensine as crianças a observar sinais como folhas secas ou solo muito úmido.
4. Montagem da Horta com as Crianças
Agora vem a parte mais envolvente: montar a horta com as próprias mãos! Esta etapa deve ser vivenciada com calma, participação ativa e muita conversa.
Passo a passo lúdico:
1. Deixe que as crianças escolham seus recipientes decorados.
2. Mostre como colocar pedras ou casca de ovos no fundo para ajudar na drenagem.
3. Oriente a colocação da terra e das sementes ou mudas.
4. Ajude a regar e posicionar os vasos no local escolhido.
5. Crie plaquinhas de identificação com palitos de sorvete e desenhos das plantas.
Atividades educativas durante a montagem:
Conte histórias envolvendo plantas e natureza.
Cante músicas relacionadas ao cultivo.
Faça perguntas como “Qual cheiro você sente aqui?”, “Essa folha é áspera ou lisinha?”.
Proponha desenhos e registros em um diário da horta.
Montar a horta sensorial é uma oportunidade de vivência prática, criativa e afetiva, que transforma simples momentos em aprendizados duradouros. O mais importante é permitir que a criança seja protagonista em cada etapa, experimentando, errando, tocando, cheirando e se encantando com o milagre da vida vegetal.
Dicas Para Manter a Horta Sensorial Viva e Envolvente
Rotina de cuidados: Crie uma escala de rega, acompanhamento da luz solar e retirada de folhas secas. Incentive as crianças a assumirem pequenas responsabilidades diárias ou semanais.
Registros visuais e sensoriais: Fotografe o crescimento das plantas, grave vídeos com as falas das crianças, cole folhas secas em murais. Esses registros ajudam a documentar o processo e valorizam o protagonismo infantil.
Integração com outras atividades pedagógicas:
Na culinária: preparar receitas simples com as ervas colhidas.
Na arte: usar folhas e flores para carimbos naturais ou colagens.
Na matemática: medir o crescimento das plantas com régua, contar sementes ou registrar os dias até a colheita.
As crianças aprendem com mais profundidade quando o conhecimento é vivenciado em múltiplos contextos. Ao transformar a horta em ponto de partida para outras experiências, o educador amplia as possibilidades de aprendizado significativo.
Benefícios Emocionais e de Convivência
A experiência de cuidar da horta ajuda as crianças a lidarem com frustrações e esperas. Nem sempre tudo floresce como o esperado, e isso também é aprendizado. Lidar com pragas, plantas que não crescem bem ou a espera pela colheita ensina resiliência e paciência.
Trabalhar em grupo, negociar tarefas e compartilhar conquistas desenvolve habilidades socioemocionais essenciais. A horta vira um espaço de escuta, expressão e cooperação.
Valorizando a Participação da Família
Se possível, convide as famílias a participarem da construção da horta, seja enviando materiais recicláveis, doando mudas ou participando de momentos especiais como o plantio coletivo. Isso fortalece a parceria escola-família e amplia o alcance das mensagens sobre sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente.
Os responsáveis também podem criar pequenas hortas em casa, inspirados pela experiência das crianças. Assim, o projeto extrapola os muros da escola e se transforma em uma ação comunitária.
Conclusão
Montar uma horta sensorial com crianças usando materiais recicláveis é muito mais do que propor uma atividade divertida. Trata-se de uma ação educativa completa, que une sustentabilidade, desenvolvimento infantil e experiências significativas de aprendizagem. Ao explorar os sentidos, as crianças não apenas descobrem o mundo ao seu redor, mas também se descobrem como participantes ativos e criativos desse mundo.
Essa prática transforma o espaço, seja ele uma sala de aula, um quintal ou uma varanda, em um ambiente vivo de experimentação e crescimento. Os pequenos desenvolvem o cuidado com o outro, com a natureza e com o que produzem com as próprias mãos. E tudo isso usando recursos simples e acessíveis, como garrafas PET, potes plásticos, latas e caixas reaproveitadas, mostrando que a criatividade e a educação caminham de mãos dadas.
Se você ainda não experimentou essa proposta, este é o momento ideal para começar. Reúna alguns materiais, envolva as crianças no planejamento e aproveite cada etapa da montagem. Não é preciso ter experiência, espaço amplo ou orçamento elevado. O mais importante é oferecer tempo, atenção e afeto; ingredientes que, assim como o sol e a água, fazem tudo florescer.
Cultivar uma horta sensorial é cultivar experiências que ficam na memória e no coração das crianças. É plantar hoje os aprendizados que elas levarão por toda a vida